Quem acompanha a indústria automotiva, sabe que todas as milhões de marcas espalhadas pelo mundo pertencem a umas... 5 empresas no total. O maior exemplo disso é a Volkswagen: no seu rol de marcas estão a própria VW, Audi, Lamborghini, Bugatti, Bentley, Seat, Skoda... E eles querem mais. Acabaram de finalizar a compra da Porsche e estão tentando tirar a Alfa Romeo da Fiat.
A idéia da VW é ser a Unilever dos carros. Entre num supermercado. Escolha um produto - qualquer um. Olhe na embalagem: você verá um logo da Unilever. Pois a Volks quer fazer a mesma coisa com os carros. Você vai entrar numa concessionária - qualquer uma -, escolher um carro - qualquer um - e vai acabar encontrando um emblema "VW" em algum lugar.
Com a sua plataforma modular MQB (do alemão Modularer Querbaukasten, ou plataforma modular transversal), aquela do novo Golf VII a Volks está realizando o sonho de todas as suas concorrentes (lembre-se, só existem umas outras 4). Pense nela como um skate sobre o qual é possível montar várias carrocerias diferentes, serrando e remendando a base para deixá-la mais curta/longa ou estreita/larga. Desde pequenos hatchbacks até SUVs (incluindo, claro, o Jetta) poderão compartilhar essa plataforma. É verdade que, por enquanto, a MQB só serve para carros com motor transversal dianteiro e tração dianteira, mas é questão de tempo até a tecnologia evoluir para algo ainda mais flexível. Uma plataforma assim, para tração traseira já está sendo desenvolvida pela Porsche, para ser utilizada também nos Bentley.
Assim, tomando o Jetta como modelo base, tudo vai caminhar para a Jettificação do mercado. Vai comprar um Voyage 1.0? Será um Jetta encurtado com cilindrada reduzida. Vai comprar uma Lamborghini Gallardo? Jetta 2.5 rebaixado com tração integral e um 2o motor soldado em 'V'. Que tal um 911? Fusca Jetta com 1 motor e meio achatado, na traseira. Talvez você prefira um Bentley? Jetta forrado de couro com faróis vesgos. Que tal chutar o balde e comprar um Veyron? Jetta turbo mais caro do mundo, com 4 motores soldados em 'W'.
Esse plano de ação da VW tem fundamento: o compartilhamento de plataformas vai diminuir drasticamente os custos de desenvolvimento dos carros, aumentando a margem de lucro e talvez, se eles forem bonzinhos, até mesmo reduzindo os preços (mas provavelmente não no Brasil). Que empresa não gostaria de ter algo assim? O problema é que a Volkswagen vai usar essa vantagem competitiva para fazer caixa e acabar com todas as outras (4) montadoras (talvez eles ainda comprem mais uma ou outra). E no que isso vai resultar?
Por mais que o Jetta seja um bom carro (e não tenha dúvidas, ele é), ninguém quer olhar à sua volta e se ver cercado de modelos iguais. Sobretudo quem gosta de carro. Pense na situação: você, um entusiasta, vai dirigir dois carros aparentemente diferentes, mas a sensação vai ser absolutamente a mesma. Sua mãe, sua tia ou sua avó não vão sentir diferença e vão achar até bom, porque, em diferentes níveis, o compartilhamento de tecnologia vai significar preços mais baixos, manutenção mais simples, etc. Mas você vai saber o que estará acontecendo. Estaremos caminhando para a Rússia da época em que você podia comprar qualquer carro, desde que ele fosse um Lada. Para a Alemanha oriental, quando você só podia comprar Trabants. Para o Japão, quando você só podia comprar Toyo... (ops, isso é agora!)
A diversidade é uma das coisas que tornam a vida interessante. Com os carros, não é diferente. Se alguém quer ter o direito de comprar um carro que vai quebrar pelo menos uma vez entre cada revisão, deixe ele escolher entre a Fiat ou as marcas francesas. Se uma pessoa decide conscientemente ter um carro moderno que faz 4 km/L e é feio de doer, deixe ela escolher seu GM preferido em paz. Se o seu vizinho quer comprar um carro com 5 anos de garantia e ser explorado nas revisões e peças, a Caoa ficará feliz em atendê-lo. O que não pode acontecer, é não termos opção.
Por isso, é hora de protestarmos. Caso contrário, só veremos Jettas... Jettas pra todo lado!
-WS