segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Ao Volante: Ferrari F430 Spider em Madrid


Nesse post, talvez o mais especial de todos até agora, relatarei como foi a minha primeira vez pilotando uma Ferrari, uma apaixonante F430 Spider. Essa foi minha maior experiência automotiva até hoje - até hoje, já que  em pouco tempo o Alto Giro partirá para um feriado automotivo na California! 
Esse é um relato subjetivo de um piloto de primeira viagem, já que eu sou - ou melhor, era - totalmente inexperimentado em carros desse calibre.


Assim como mencionado no post do cenário automotivo da Espanha, passei um mês a trabalho nesse belo país, e uma das grandes experiências que tive nessa viagem foi a oportunidade de alugar a F430 em Madrid. Depois de alguma pesquisa, descobri que alugar carros exclusivos na Europa não era tão difícil. Em Madrid haviam algumas locadoras exclusivas em supercarros, assim como em Barcelona, Paris e outras cidades importantes. Fui pela locadora RentBull, por ser uma das poucas que alugavam por períodos curtos, de até meia hora. Ser a que estava mais perto do meu apartamento também ajudou!

Quando entrei na locadora e vi a garagem repleta de esportivos, foi difícil conter o entusiasmo. O mais difícil foi escolher. Pelo preço que queria pagar, havia F430, F430 Spider, Gallardo, 911 Carrera, R8... por quase o dobro, havia 458, 599 GTB, 911 GT2, SLS AMG....


Eu estava em um conflito existencial entre a Gallardo e a F430, talvez a decisão mais difícil que já tomei! 
Luis, o dono da locadora acabou com minha angústia: “És la primera vez? Ferrari, el convertible!”. Dizia ele pra eu não perder a chance de pisar no acelerador e ouvir o V8 com capota abaixada na primeira vez. Dizia também, que a F430 era mais dócil que a Gallardo.

Quem sou eu pra argumentar? A F430 Spider seria então, a primeira Ferrari e o primeiro superesportivo da minha vida.

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Minha intenção era alugar por 1 hora, mas, com boa intenção, Luis me disse que naquele horário (cerca de 4:30 da tarde) eu ficaria preso no trânsito e me aconselhou a alugar por somente meia hora. Aceitei o conselho, e logo estava na garagem junto com Manuel, meu instrutor que me guiaria pelas avenidas de Madrid até umas estradinhas secundárias.

Em uma experiência como essa, tudo se torna um ritual.
Deixar o carro esquentando por 5 minutos ao ligar, acomodar minha mochila no porta-malas dianteiro, entrar de lado e me endireitar sentando quase na altura do solo, ajustar o banco, cinto, volante e espelhos, me ambientar com os comandos e perceber como os pedais são bem deslocados pra direita, deixar o manettino no modo Sport...  ah, e o inesquecível balé mecânico da abertura da capota.



Saio receoso da garagem. Usando o pedal do acelerador como um conta-gotas, a F430 vai se rastejando no meio do trânsito de Madrid. A caixa de câmbio ainda está em modo automático. Melhor deixar a eletrônica cuidar das marchas enquanto me ambiento com a máquina. No meio do trânsito, o ronco do V8 é grave e forte, um constante lembrete que devo tratá-lo com respeito. Alguns quarteirões adiante, tenho a sorte de parar na primeira posição num farol vermelho. Me sinto na pole-position
Numa cena engraçada, mas compreensível (os espanhóis são muito entusiasmados e emotivos), três jovens na calçada olham atentos para minha Ferrari. Ao notarem que o sinal passou pro amarelo na pista transversal, um deles entusiasticamente berra: "VAI VAI". Tomado por esse espírito, eu nem hesito: no sinal verde, afundo o pé e desperto o vulcão. A Ferrari dá uma chicoteada para frente, uma aceleração esmagadora e inesperada, que eu nunca havia experimentado antes. Acostumado a carros em torno dos 200 cv, fico impressionado, abismado e até assustado, o que só mostra o despreparo que eu tinha por máquinas deste naipe. Pela primeira vez faço a italiana berrar até seus 8 mil rpm, alcançando tons agudos que só os V8 flat-planes de Maranello sabem fazer. É quase erótico. A mistura de sensações como euforia, prazer, satisfação e medo é indescritível. Nem sei qual foi a reação dos três espanhóis, mas imagino que eles devam ter ficado satisfeitos com a sinfonia... mas não tanto quanto eu! Meu companheiro ri das minhas expressões faciais. Ele ri, pois já passou por isso um dia, e sabe a sensação que é.


Caio numa avenida grande, que se interliga à uma estrada alguns quilômetros adiante. No meio do trânsito, a F430 fica amarrada. Vou rodando em média rotação, a uns 4-5 mil rpm. O carro implora por um trecho de pista livre. Mais à vontade, desligo o automático e assumo o controle das marchas agora. Na pista esquerda, os espanhóis dão passagem sem eu pedir. Nada como uma estrada no primeiro mundo, onde as pessoas têm bom senso e respeitam a sinalização. Ok, estou numa Ferrari. Mas já havia comprovado isso uma semana antes, ao volante de um BMW 540.



Lembro de cada detalhe da cena que descrevo a seguir. Depois que um Seat León me dá passagem, tenho enfim um trecho de pista livre e 490 cv sob meus pés. Reduzo pra segunda pela aleta esquerda, e a troca é muito rápida. Não é como um câmbio de dupla embreagem, mas é um piscar de olhos quando comparados a um conversor de torque. Estico a segunda e a F430 ganha velocidade como um projétil. Seis, sete, oito mil rpm. A Ferrari grita alto, quase como se me agradecesse por finalmente conseguir se soltar! Puxo a aleta direita pra subir pra terceira, e o carro dá um coice violento e quase desgarra um pouco a traseira! Olho pro meu lado meio assustado, e vejo Manuel rindo de mim! 
Inexperiente, eu não aliviei o pé na troca de marcha. E assim, a rotação disparou no meio da troca, e quando a terceira marcha entrou, veio como um soco na nuca.
Manuel ria, pois sabia do erro que cometi, e também por que sabia que eu estava ciente do que fiz.


Lição aprendida. No modo manual, diferentemente do automático, sempre aliviar nas trocas de marcha. Algumas cambiadas depois, e a Ferrari estava voando suave nas minhas mãos.

Cerca de 10 minutos depois, saímos da rodovia e chegamos ao nosso destino: uma sequência de estradinhas secundárias quase vazias, que interligam várias rotatórias, com bons trechos de reta e algumas curvas. Naquela situação, não havia lugar melhor. Era hora de fazer essa italiana esticar as pernas. Já confiante, mas ainda com muito respeito ao carro, saio da primeira rotatória em segunda marcha e pisando progressivamente. A uns 30% de carga no acelerador, a F430 já está muito rápida. A uns 50%, o V8 é um vulcão. Afundando o pé até o fim de curso... meus Deus...!



Muito mais do que velocidade que estou e do vento no rosto, sinto o motor vibrando nas minhas costas e o som entrando muito além dos meus tímpanos. O V8 berrando a 8500 giros no seu cangote provoca um calafrio que desce por toda a espinha dorsal. Nessa hora percebe-se como todo o resto do carro é supérfulo. Os itens de conforto, o rádio, o belíssimo desenho da Pininfarina, etc. Tudo que quero saber nessa hora, é repetir essa sensação. E felizmente, isso é feito e refeito, diversas vezes, nessa estradinha abençoada.



Manuel, sempre muito simpático com seus clientes, ria da minha satisfação e me incentivava a pisar fundo. Mas eu percebia nele uma ponta de preocupação, pois mesmo sabendo que os limites da máquina ainda estavam longe, ele não conhecia quais eram os meus. Essa preocupação era desnecessária, já que a F430 podia ir muito além dos meus limites naquela hora - e eu, piloto de primeira viagem, não forcei a ponto de atingi-los.
Mesmo estando muito abaixo do que a F430 era capaz, eu estava mais rápido do que jamais estive. Num trecho maior de reta, esticando a quarta marcha pra subir pra quinta, dei uma piscada rápida no velocímetro e estava a 260 km/h. Em vias públicas, sim, mas com certeza me sentia mais seguro que em um Celta a 140 km/h. E tudo com a conivência do meu instrutor. Subi pra quinta e ainda acelerei um pouco mais antes de frear pra curva. Essa foi uma das poucas vezes que olhei o velocímetro. Por mais capaz que seja a máquina e mesmo com um instrutor ao lado, pilotar assim demanda concentração total, ainda mais para não-iniciados como eu.
Depois de uma série de repetições nesse trecho de estrada, subimos à rodovia de volta a Madrid. Pude relaxar, e deixar a Ferrari descansar também. Rodando com tranquilidade no trânsito, Manuel, também mais tranquilo, filmou o vídeo abaixo.


No final, o passeio durou bem mais que meia hora - contando o tempo perdido no trânsito, foi quase 50 minutos. Mas para mim pareceu uma eternidade, dada a intensidade que cada segundo foi vivido. Voltando à locadora, sobrou o gosto de "quero mais".
Nesse post, tentei passar um pouco dessa experiência incrível que tive, mas é claro que palavras, fotos e vídeos não  traduzem nem 1% da sensação que é. 
A todos os entusiastas inexperimentados, acho que é obrigatório passar por uma experiência dessas na vida. Não é tão difícil. Uma vez na Europa ou na América do Norte, existem muitas locadoras que prestam esse serviço. Até em Gramado, RS, tem uma 360 Modena pra locação. A todos os iniciados, parabéns! Tenho certeza que viveram (ou vivem) intensamente seus momentos com essas máquinas, e fico orgulhoso em poder dizer que faço parte de um clube seleto. E sinto-me muito mais confiante agora para meu feriado automotivo na California, onde passaremos dias inteiros com Mustang GT, M3, 911, F430...




2 comentários:

  1. sensacional, xxx

    deve ser absurdo mesmo

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  2. Aê, finalmente li o post, agora que já dirigi uma também! Vou guardar meus comentários para nosso post do Motoring Holiday na Califórnia, mas assino embaixo do que você falou.

    A primeira troca de marcha no modo manual é isso, mesmo, haha! Que coice!

    O carro é lindo demais, mas é o que ele faz que conquista completamente.

    -WS

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