Confesso que, quando saíram notícias de que a Fiat "se casaria" com a Chrysler, temi pelo futuro das duas empresas. Afinal, era a Fiat dos EUA se juntando à... bem... à Fiat do mundo. Piadas sobre a qualidade dos carros à parte, a verdade é que a união não só salvou a Chrysler da falência (com uma boa ajuda do tio Sam, fato), como tem trazido bons frutos.
A presença do Fiat 500 nos EUA é um deles, possível graças à planta da Chrysler no México (aparentemente, os operários mexicanos realmente fabricam carros, ao invés de beber e fumar maconha), além, é claro, de sua rede de concessionárias. Apesar de o carrinho não chegar nem perto das projeções iniciais de venda, ele não vem fazendo feio com os gringos. Outro exemplo é o novo Dodge Dart, sedã compacto americano baseado no Alfa Giuletta, que foi bem recebido pela crítica - e que já até gerou uma versão italiana, o Fiat Viaggio. E não pára por aí: agora os interiores dos carros da Chrysler deixaram de ser apenas uma grande peça única de plástico encaixada por dentro da carroceria. Algum italiano deve ter convencido os americanos de que é bom ter um pouco de tecido nas portas, um material emborrachado no dashboard...
CONTINUA...
Em resumo, o casamento parece ter sido benéfico para as duas partes. Mas como isso vem afetando a atuação das marcas aqui no Brasil? Carros de uma marca vendidos com logotipo da outra?
Não, a verdadeira escorregada da Fiat/Chrysler no Brasil chama-se Jeep Compass. Não se assuste se você nunca ouviu falar no carro. Há boas chances de que você nunca tenha nem mesmo visto um. E não por acaso.
Na ânsia de participar do movimentado segmento de SUVs com preços ao redor dos R$ 90k (e aparentemente se esquecendo de que já participa dele com o Freemont), a Fiat/Chrysler resolveu trazer para o Brasil o Jeep Compass. Um SUV (tecnicamente, um crossover) que falhou miseravelmente na terra dos SUVs. E por R$ 100.000. (Antes do aumento do IPI. Sim, eu disse "antes")
A idéia de trazer um utilitário manco, beberrão, sem bancos de couro e que custa 100 mil para competir com Honda CR-V, Hyundai ix35, Kia Sportage e Chevrolet Captiva é tão boa que só pode ter vindo da mesma pessoa que não viu nenhum problema em usar, no Brasil, o nome Chana para a montadora chinesa.
Tudo bem, até dá para enxergar um ou outro ponto positivo... A frente do Compass lembra o Grand Cherokee, utilitário tradicional e muito bem aceito pelos brasileiros. Mas o que falar do resto do desenho, a não ser que deve ter sido fonte de inspiração para o Dacia/Renault Duster? (Entendam isso como quiserem...)
- O ix35 tem sistema multimídia com tela colorida? Não tem problema, nosso sistema de som pode tocar o áudio de DVDs!
- O carro vai custar pelo menos R$ 5k a mais que qualquer concorrente? É o preço da exclusividade!
Consigo até imaginar essas conversas nos escritórios da montadora... O que não dá pra imaginar é como responderiam às perguntas sobre o péssimo resultado do Compass nos crash tests europeus (Euro NCAP). Para isso, não há mágica de relações públicas que resolva...
O consumidor brasileiro aceita qualquer coisa por qualquer preço. Isso é fato. Mas, seja pela legislação (airbags e ABS obrigatórios em todos os carros a partir de 2014), seja pela concorrência um pouco mais acirrada (vedetes do mercado como Hyundai e Kia chacoalharam mais de um segmento), o cenário automotivo vem melhorando por aqui. E tudo indica que o fracasso retumbante do Compass será a prova mais recente disso. Me cobrem os números de venda daqui a alguns meses.
Agora posso enfim concluir o título do artigo:
...NOOOOOOOOOOOOOOOOT!!
-WS
PS: será que parte da culpa pelo ainda ridículo mercado automotivo brasileiro é da nossa imprensa "especializada"? Compare os trechos abaixo, retirados respectivamente das resenhas da revista brasileira Quatro Rodas e do Auto Blog, site americano de autoridade, e me diga o que acha.
(Sim, ambos estão falando sobre o mesmo carro)
"O preço competitivo é uma das grandes armas do Compass. Com preço sugerido de 99.900 reais(...)
(...) Colocando os prós e contras na balança, o Compass tem tudo para incomodar sul-coreanos, japoneses e mexicanos."
Auto Blog
(Tradução livre)
"Sejamos honestos: o Jeep Compass nunca deveria ter sido construído.
(...) Se o novo e atualizado Compass tivesse um preço mais realista - o que, sem dúvidas, acontecerá quando a Chrysler começar a investir de verdade no projeto -, talvez ele fizesse sentido como uma alternativa mais barata e menos atraente em relação a seus concorrentes maiores e melhores."
muito muito bom seu artigo, william..!
ResponderExcluiresse jeep compass é um dos maiores fracassos da chrysler recentemente, junto com seu irmão (mais feio ainda) Dodge Caliber...
logo.. nada mais natural do que empurrar esse lixo goela abaixo dos brasileiros, afinal esse povo aqui aceita de tudo a qualquer preço, país sinônimo de lucro fácil pras montadoras...
acontece que esse carro é tão deficiente que nem no nosso medíocre país ele consegue vender bem... e olha que se compra bastante Palio Adventures, Chevrolet Agile e Monstrana (que acabou causando a demissão voluntária da Denise Johnson) e Dacias Sandero/Duster por aqui..!
Na verdade, eu não duvido que o Jeep Compass pudesse ser uma experiência da Chrysliat para ver a recepção do povo aqui, e para quem sabe num próximo passo, "nacionalizá-lo" pelo México com o logotipo da Fiat na grade e um nome idiota como Montclair, assim como fez com o Journey/Freemont...
Afinal, a Fiat nunca teve um "jipinho" de verdade... imagino por que não trazem o Sedici para cá...
Depois do face-lift de 2010, o Compass ficou muito menos feio, pois o anterior era absolutamente horrendo. De qualquer maneira, nunca deixou de ficar entre os últimos nos comparativos americanos, e entre os menos recomendados dos guias de compra...
foi perfeita a sua comparação entre a estúpida imprensa brasileira e seu total desserviço aos leitores, e uma avaliação mais franca e sem puxa-saquismo do autoblog... que por sinal, é só um entre dezenas de avaliações internacionais negativas que li sobre o Compass, que é vendido por 100 mil reais aqui no Brasil
pior que imagino muita gente pagando 100 mil reais nesse carro achando que vale o investimento por causa da "exclusividade" do Compass, e da "robustez e confiabilidade" da marca Jeep...
ResponderExcluirmal sabem que sua exclusividade comnpartilha plataforma com alguns dos piores Chrysler e Dodges já fabricados (como o Sebring/Avenger, Caliber, etc), com alguns Mitsubishis (com o Lancer) e até Citroens!!
E consequentemente, essa "robustez" vai por água abaixo, já que obviamente esse carro em NADA compartilha peças mecanicas com o lendário Wrangler.
Valeu, Jackson! Curti "Monstrana" e "Chrysliat", haha!
ResponderExcluirQuanto à "nacionalização", acho bem possível, mas imagino que antes a Fiat vai acabar desenvolvendo um concorrente pro EcoSport. Deve ser a prioridade deles. E provavelmente sem base Jeep, já que deve ser cara. Devem usar alguma plataforma brasileira, mesmo como a do novo Palio.
Você acerta em cheio quando diz que eles devem estar querendo vender "robustez e confiabilidade" da marca Jeep. Os poucos compradores devem dizer isso pros amigos, quando vão mostrar o carro, hehe. Mal sabem...
-WS