Hoje tenho o prazer de publicar um post em gestação há quase 5 anos, antes mesmo da criação do Alto-Giro: um [Ao Volante] verdadeiramente especial. Digo isso porque falo de um carro, ou melhor, de uma Mercedes que pude chamar de minha durante 4 meses. E na Alemanha, habitat natural do carro e terra das Autobahnen sem limites de velocidade.
Em 2006, quando morei na Alemanha, tive a oportunidade de comprar este CLK 320 Elegance, da geração C208, de 1998, usado e com pouco mais de 134.000 km rodados. E de conviver com ele por 4 deliciosos meses, em que viajei não só pela terra da cerveja, mas por vários outros países da Europa ocidental. Muitos foram os quilômetros de Autobahn, mas também muitas foram as estradas secundárias que cruzei com esta Merça. Mais do que o suficiente para garantir-lhe um lugar especial no meu hall de honra automotivo.
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Comecemos pelo principal: esse CLK 320 tinha o motor 3.2 V6 que equipou tantas outras Mercedes, da Classe C até a S. Uma olhada nos seus números tornam fácil entender o porquê: 218 cv de potência e 32 kgfm de torque. Se hoje esses valores não chegam a impressionar, ainda mais para um carro de cerca de 1.400 kg, como esse belo coupé, posso garantir que eram suficientes para empolgar nas acelerações, mesmo com câmbio automático. Isso após 8 anos de uso, após os quais a potência certamente caíra em relação a quando o motor saiu da fábrica. Se a velocidade final não parecia muito para um carro dessa estirpe - 230 km/h, que pude alcançar por diversas vezes nas Autobahnen, pouco abaixo dos quase 240 km/h que o carro atingia quando 0 km -, a facilidade com que ele a atingia nunca deixava de me impressionar. E a estabilidade e o sossego com que essa Benz rodava nesse patamar honravam os valores tradicionais da marca.
Por fora, o CLK C208 emulava a aparência da Classe E da época (W210), a Mercedes que inaugurou a "era dos faróis redondos". O tema persistiu na Classe E W211, no CLK C209, na Classe C W203 e até mesmo em carros de outros fabricantes, como o lamentável Kia Opirus ou o Volkswagen Polo. O porte de cupê era evidente, com a linha do teto descendente e a baixa altura.
A versão de acabamento do meu CLK era a Elegance, mais sóbria em relação à mais esportiva Avantgarde. Com plásticos de boa qualidade, mas já um pouco judiados pelo tempo, apliques de madeira de bom gosto (ainda que eu preferisse algo mais esportivo) e couro de ótima qualidade, o acabamento era digno de um carro de luxo. Considerando que esse exemplar foi fabricado em 1998, o pacote de equipamentos também era muito bom: airbags frontais e laterais, ABS, ESP, cruise control, rádio com sistema de informações de trânsito e toca-CDs, ar condicionado digital dual-zone, bancos aquecidos, faróis de xenônio (apenas para o facho baixo) com lavadores, sensores de estacionamento à frente e atrás, retrovisores rebatíveis eletricamente, teto solar, etc. Estranhamente, o carro não tinha computador de bordo. Nada de informações de consumo, velocidade média, autonomia... Ele tinha sim uma função para alertar caso o nível de óleo estivesse baixo, mas praticamente nada além disso. Ao lado da falta de navegador GPS (perdoável para um carro dessa época), essa era uma das únicas faltas do modelo.
Os sensores de estacionamento (Parktronic, em jargão Mercedes) merecem destaque. Além do aviso sonoro, havia três mostradores gráficos, um para cada lado do pára-choque dianteiro, e um central, para o traseiro. Cada um deles indicava, através de uma barra colorida, a distância para os obstáculos. Uma solução muito inteligente e bem implementada, considerando a ausência de uma tela colorida, como ocorre hoje em dia. Igualmente interessante eram os ajustes elétricos para o banco do motorista: controles em forma do próprio banco, assim como são até hoje nas Mercedes atuais. Os lavadores dos faróis eram uma atração à parte: sempre que ia mostrar o carro para algum amigo, era simplesmente obrigatório apertar aquele botãozinho e se impressionar com o seu funcionamento. Algo meio bobo, mas legal de ver funcionando. Outra função chamativa era o rebatimento dos encostos dos bancos traseiros por botão, muito útil para evitar que eles atrapalhassem a visão traseira, quando não houvesse passageiros atrás.
Se não me falha a memória, o carro veio com 3 chaves (ou seriam 4? - só me lembro de ter ficar impressionado), todas completas com controle remoto. O engraçado é que elas possuíam um sistema híbrido de rádio-freqüência, para travamento das portas (como em todos os carros), e infra-vermelho, para funções extras, como abrir ou fechar os vidros e o teto solar. Para realizar essas ações, era necessário estar próximo do carro e apontar a chave para um receptor junto à maçaneta, segurando o botão de travar ou destravar por alguns segundos. Além disso, apesar de ter lâmina metálica, embutida no corpo plástico, a comunicação com o carro, habilitando a ignição também era feita por essa interface. Apesar disso, o sistema de partida eletrônica tinha uso normal, inserindo a chave num tambor e girando-a.
Como um entusiasta, admito que o câmbio automático era uma desvantagem para mim. Nada como controlar o carro na embreagem, seja para arrancar com o giro lá em cima, ou simplesmente dosar com precisão uma manobra. Ainda que a transmissão tivesse 5 marchas, mais do que alguns modelos contemporâneos (alô, i30 e Corolla, estou falando de vocês!), não era a mesma coisa. O lay-out dos engates foi pensado para possibilitar o uso manual, passando de marcha em marcha, mas isso não fazia muito sentido, além de não ser exatamente muito prático. Apesar dos pesares, o câmbio era bem escalonado e permitia arrancadas vigorosas, graças ao torque generoso em baixa. Mas não recomendo acelerar pisando no pedal de freio ao mesmo tempo, para disparar com mais força. Muito menos acelerar em N e mudar subitamente para D. O tranco na transmissão dói no coração!
Um dos poucos problemas que experimentei com esse CLK foi justamente com o câmbio. Acelerando forte na Autobahn, ele passava as marchas perto do corte de giro. Mas, chegando quase no final da 4a marcha, a transmissão parecia engasgar, sendo necessário aliviar o acelerador, o que fazia com que a 5a finalmente fosse engatada, para só então retomar aceleração total. O outro problema dizia respeito à ferrugem na carroceria, algo conhecido na Alemanha como Mercedes-Krankheit, ou doença de Mercedes, de tão comum que era nas Benz até a década de 90. Mas não era nada excepcional, apenas alguns pontos na tampa do porta-malas, já (mal) reparados pelo antigo dono.
Sendo um carro de tração traseira, o CLK era naturalmente mais arisco do que um veículo com tração dianteira. Desligando o ESP, dava para notar isso claramente, sobretudo ao acelerar mais forte numa junção oblíqua, por exemplo, ao entrar numa estrada. A traseira escapava com facilidade, pedindo um contra-esterço, talvez a manobra mais gostosa de se fazer num carro. Você sente que ele precisa da sua intervenção para não perder o rumo, coisa de piloto! ;-) Mas, quando mal calculada ou sob condições adversas, o susto pode ser grande, como pude comprovar num dia chuvoso, com pista escorregadia. Por sorte, nada de mais aconteceu, e eu aprendi a lição sem maiores conseqüências.
Ao contrário da expectativa, por ser uma Mercedes-Benz, o carro não era excessivamente macio. A suspensão não era exatamente dura ou esportiva, mas não deixava a desejar nas curvas. Isso sem incomodar ao passar por buracos ou imperfeições na pista (sim, elas existem até na Alemanha, embora em intensidade e freqüência absurdamente menores do que no Brasil), o que sem dúvida era devido aos pneus de aro 16 e perfil adequado. A direção tinha peso muito bom, firme em altas velocidades, mas sem incomodar nas manobras de estacionamento. O volante, de quatro raios, não tinha aparência esportiva, mas agradava pelo desenho e, principalmente, pela estrela de três pontas ao centro, que, assim como aquela espetada no capô, nunca falhavam em abrir sorrisos no meu rosto.
Assim como acontece até hoje, toda vez que eu me lembro desse carro. Seja vendo um exemplar de mesma geração na rua, na TV, ou simplesmente rememorando alguns dos muitos momentos inesquecíveis que vivi ao seu volante. Este foi, sem dúvida, o meu carro especial, até agora. E espero ter conseguido compartilhar um pouco da minha experiência [Ao Volante] com vocês.
-WS
Referências:
muito bom, wilson!
ResponderExcluirrealmente deve dar um prazer de sentar num carro desses e chamar de seu
hehehe
bom review e impressionante pra um carro de 98
quanto vc pagou?
espetacular seu relato, William!
ResponderExcluirFico muito feliz por vc, por te tido o prazer e o privilégio de ter sido proprietário de um carro tão entusiasmante por esse tempo!
Tenho certeza que esse carro lhe fornecia muita diversão ao volante. 218 cv é um bom número até nos dias atuais, mas o que realmente devia fazer diferença, devia ser os 32 de torque, certo?
Entendo sua frustração em relação ao câmbio automático, certamente eu também teria o mesmo sentimento. Hj em dia, não importa em qual situação, mesmo morando em são paulo, ainda não cogito comprar um carro sem um belo dum pedal de embreagem pra eu pisar... e olha que a embreagem do meu Golf é bem pesada!
Vc me contou como foi essa rodopiada que deu com o TC desligado ("susto grande" é um belo dum eufemismo), e tenho certeza que esse motor já era o suficiente pra trazer boas doses de emoção ao volante! Eu mesmo já passei por situação semelhante no meu Thunderbird V6 =)
Vc desaconselhou a pisar no Neutro e jogar pro Drive, e eu reforço isso... fiz isso no meu TBird tbm, e esse tranco na transmissão é algo que vc não quer ouvir seu carro fazer.. ainda mais se tratando de carros com alguma idade já!
Bom, já te disse isso pessoalmente, mas fica aqui registrado também: parabéns por esse carro espetacular que vc teve, a sua primeira mercedes de, quem sabe, muitas outras?? Só espero que as próximas tenham 3 letras escritas no porta-malas. A primeira delas é "A"...
=)
abs e parabéns pelo post!
Pois é, a experiência de ter o carro foi animal!
ResponderExcluirO torque realmente era o diferencial, apesar de 218 cv não serem desprezíveis. Quanto ao câmbio, mais e mais estou convencido de que não teremos escolha de manual, infelizmente. Ainda preciso dirigir um automatizado de dupla embreagem, mas tenho certeza que vou sentir falta do terceiro pedal.
Xineis, agora falta o seu relato do T-Bird!
-WS
Parabéns pelo artigo! Um prazer de ler! Continue nos dando boas leituras!
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