segunda-feira, 1 de junho de 2009

[Alto-Giro] Detroit em luto


Chegou o dia do impensável!

A gigante, a inquebrável, a maior do mundo, o coração da América, ícone dos Estados Unidos e do capitalismo, a multibilionária General Motors pediu concordata.
Até alguns anos atrás, esse acontecimento era algo fora da realidade. A empresa que por si só possuía uma movimentação financeira em 2008 de US$42,4 bilhões, maior do que o PIB de países como Uruguai, Bolívia, Paraguai e República Dominicana, foi líder mundial de vendas de automóveis por 77 anos consecutivos (1931-2007).

Dia 1 de junho de 2009 foi a data que a GM pediu concordata, anunciando possuir ainda US$ 82 bilhões em ativos. Parece muito. Mas sua dívida é de US$ 172 bilhões.

Ao entrar em concordata, a empresa não fecha as portas. Ela reconhece a incapacidade de honrar suas dívidas, e pede auxílio ao governo americano, ao entrar com pedido de proteção do Capítulo 11 da Lei de Falências americana. Como a GM emprega cerca de 250 mil trabalhadores nos Estados Unidos, o governo americano seguramente não fechará suas portas. A administração federal irá injetar na companhia US$ 50 bilhões, sendo que US$ 20 bilhões já foram liberados, e irá controlar 60% do capital da empresa. Já o governo canadense concederá um empréstimo de US$ 9,5 bilhões em troca de 12,5% de participação acionária. O sindicato UAW (United Auto Workers) terá 17,5% dos títulos.


Na reestruturação, a empresa já anunciou que vai fechar ao menos 13 fábricas, demitir 21 mil funcionários e se desfazer de até 2.400 concessionárias nos EUA. Lamentavelmente, também ocorrerá o desaparecimento de quase a metade de suas marcas, muitas dessas queridas entre entusiastas automotivos. Estão entre os cortes marcas como Opel (vendida para a canadense Magna no fim de semana), Saab, Hummer, Saturn e Pontiac. Chevrolet, Cadillac, Buick e GMC ficam com a GM. Outras marcas, também amada por muitos, já se foram faz tempo, como a Oldsmobile, em 2004.


No final dos anos 90, a GM e a Ford cresceram e lucraram muito com a explosão das vendas dos utilitários esportivos, junto à estável e crescente alta de vendas de picapes. A crise começou a bater na porta da GM em 2001, após os atentados terroristas de 11 de setembro e consequente queda de suas ações no mercado. Uma decisão fundamental foi tomada erroneamente em 2004. Sem prever a alta do preço do petróleo, a liderança da GM redirecionou investimentos do desenvolvimento de novos sedans para acelerar os projetos de picapes leves e SUV's, confiando cegamente nesta faixa de mercado do qual tanto lucrou no passado. Logo após o lançamento de seus novos amados gigantes veículos, o preço do petróleo deu um salto de 50%, o que fulminou toda a estratégia de vendas da empresa. De uma hora pra outra, o consumidor americano passou a correr atrás de carros "verdes"... carros pequenos, econômicos e pouco poluentes. Ou seja, exatamente a antítese de toda a tradição automotiva americana. Os três grandes americanos foram pegos de surpresa, e não souberam como reagir muito bem no começo. A Chrysler foi a primeira a cair. A Ford mostrou sua competência, e surpreendentemente conseguiu virar o jogo. A GM fez o que pode, até agora....
Assim, com a contínua queda de vendas, sendo que em 2008 a GM vendeu 45% a menos que no ano anterior, a companhia viu sua margem de lucro diminuir rapidamente, resultando então em uma perda líquida de US$18,8 bilhões no primeiro semestre de 2008, e queda de 76% do valor de suas ações. Em Dezembro de 2008, a empresa anunciou publicamente estar sem caixa para manter-se operante, e requisitou o empréstimo de US$ 13,4 bilhões do governo americano. Era o início do fim.

Mesmo com a entrada do empréstimo, a GM não resistiu às pressões.
É difícil apontar uma única causa para a queda deste gigante. A combinação de decisões erradas, a resistência dos sindicatos americanos em ceder de seus benefícios, a súbita mudança de comportamento do público americano e a crise econômica mundial, juntas, devastaram o império automotivo americano.

















Rick Wagoner

O processo de reestruturação governamental começou no final de março, após ter Rick Wagoner deposto pela administração de Obama, cedendo seu lugar para Fritz Henderson. Tal manobra desesperada foi realizada com a esperança que, com a mudança de comando, a GM conseguisse ao menos diminuir os prejuízos acumulados desde o início da crise.
Obviamente insuficiente, a ação não conseguiu estancar o sangramento de dólares da empresa.

Segundo explicou a Casa Branca, a reestruturação significará a criação de uma nova General Motors que comprará "substancialmente todos os ativos da velha GM que necessita para implementar seu plano de negócios". E em troca, o governo americano "renunciará" a recuperar a maioria de seus empréstimos.
Um fundo destinado a proporcionar serviço de saúde aos aposentados da GM, denominado Veba, receberá 17,5% do conjunto de acionistas da nova GM e garantias para a compra de outros 2,5%. Este fundo terá o direito de escolher um dos integrantes independentes do conselho de administração que não terá direito a voto ou outros direitos no comando da companhia.

O governo americano receberá cerca de 60% do conjunto de acionistas da nova GM e direito a nomear os membros iniciais do conselho de administração, e o governo canadense emprestará US$ 9,5 bilhões à empresa. Assim, terão 12% do conjunto de acionistas da nova GM e terão direito a escolher um membro do conselho de administração.

Os 10% restantes irão para os credores com garantias para que possam assumir até 25%.

Amada e odiada por muitos entusiastas, é inevitável o consenso que a GM merece o respeito de todos. Não há como negar que a GM foi talvez a empresa que mais teve influência no mercado automotivo na história, junto à Ford. Muito do que conquistamos e avançamos no mundo dos carros deve ser creditada aos engenheiros desta empresa.
















Como um ex-funcionário da engenharia da GMB, sinto muito orgulho de ter trabalhado nesta montadora lendária. Infelizmente o braço que participei (Hummer) será uma das primeiras a serem eliminadas. No entanto, nunca deixarei de prestigiar esta marca tão simbólica, nem esquecerei os bons momentos que vivi durante este período.

De qualquer jeito, a GM não merece um final melancólico como esse. Sinceramente espero que a GM possa ressurgir deste período turbulento como uma empresa enxuta e eficiente, e que continue a produzir veículos que fizeram parte das vidas de tantas pessoas, assim como carros que fizeram parte dos sonhos de tantos entusiastas.

Segue abaixo, alguns carros icônicos produzidos pela GM, assim como outros modelos de importância histórica da indústria automotiva. Sintam-se à vontade pra listar modelos adicionais nos comentários.

Xineis


Opel Rekord 1967

Opel Vectra 1996

Cadillac Eldorado 1959

Buick Roadmaster 1955

Pontiac GTO 1964

Pontiac Firebird Trans-Am 1969

Oldsmobile Toronado 1967


Chevrolet Impala 1961

Chevrolet Chevelle1969

Chevrolet Camaro 1967

Chevrolet Corvettes


4 comentários:

  1. excelente texto, xineis!

    é, vai ser um rolo agora...nos eua virou estatal...aqui pode ser comprada pela fiat (confere?)...vish

    e o Camaro SS continua como um sonho de consumo meu
    hehehe

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  2. valeu!

    última notícia que eu ouvi foi que a GM americana não vai se desfazer da GMB, pois esta dá lucro.

    Então, nada de Fiat, ufa...
    mas as coisas tbm não estão bonitas.

    Já que a opel já era, seguramente os novos projetos da GMB serão derivados da GMAP (GM Asia-Pacific... ou seja..Daewoo..)

    conselho: comprem seus chevrolets enquanto ainda há tempo!!!

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  3. heheeheh

    a GM já tem um novo apelido na net:

    GOVERNMENT MOTORS



    hahahahahahaha!!

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  4. hahaha....boa!


    mas não é arriscado comprar agora? tipo, vai parar de fabricar, as peças vão ficar escassas, etc...

    Chevrolet não vai virar um mico???

    Naipe Dodge Dakota...

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