Nada melhor que um começo chocante, na contramão da onda verde que reina entre os fabricantes de automóveis de hoje. Estou falando da supremacia da potência sobre o consumo, da ignorância sobre a sutileza, da força bruta sobre a eficiência, de Golias sobre David, de... (OK, menos!). É nesse ambiente que eu apresento o tema mais votado por vocês: Hipercompressor!
A idéia é bem simples e é uma solução para o turbo-lag em motores com grandes compressores e muita potência. Vamos ao funcionamento:
A figura a seguir é uma ilustração do funcionamento do motor MB873, da empresa MTU, que equipa nada menos que o tanque de guerra alemão Leopard II, mostrado na primeira figura deste post. É um motor de 12 cilindros em V, com 2 turbo-compressores hiperalimentados, 47.64 litros de cilindrada e capacidade para 1800 HP de potência (a versão do Leopard II tem 1500HP por privilegiar o torque em baixa rotação).
Legenda:
a – Motor V12 Diesel
b – Sistema de exaustão do motor
c – Bico injetor da câmara de combustão
d – Câmara de combustão
e – Entrada “quente” da turbina
f – Turbina do turbocompressor
g – Admissão do motor
h – Válvula de admissão da câmara de combustão
i – Compressor
Quem já dirigiu um carro turbo conhece o famoso “turbo-lag”, que é uma certa falta de força do motor até a turbina entrar em rotação alta o suficiente para melhorar o desempenho do carro. Quando isso acontece, é normal se sentir o “coice” causado pelo aumento brusco do torque do motor, prejudicando a manobrabilidade e o controle do veículo. No projeto de motores turbo, esta é a dificuldade encontrado pelo engenheiro: quanto maior o turbocompressor, melhor o desempenho final do sistema, porém, neste caso, maior será a dificuldade de se alcançar a rotação desejada das pás da turbina. Em tanques como o Leopard II, a falta de força do propulsor em baixas rotações pode significar a morte de seus ocupantes em situação de combate, tornando o problema crítico.
Para resolver este problema, o sistema de hipercompressão liga uma câmara de combustão em paralelo ao motor, similar à de uma turbina de avião. A função desta câmara é misturar parte do ar comprimido vindo do turbocompressor ao combustível injetado pelo bico “c” na figura, de modo que a mistura queime espontaneamente devido às altas temperaturas de exaustão do motor. Esta combustão adiciona entalpia (energia) à massa de gases na entrada da turbina, que aumenta sua rotação. Com isso, aumenta também a pressão do ar admitido pelo motor e a potência final do veículo.
Motor MB 873 do tanque de guerra Leopard II com Hipercompressor
A vantagem óbvia deste sistema é a capacidade de se abolir totalmente o turbo-lag, possibilitando o uso de grandes turbocompressores sem perda de força em baixas velocidades, já que a rotação do turbo é independente da rotação do motor. Como desvantagem, pode-se citar o consumo de combustível deste sistema, assim como a grande queda de eficiência causada pela queima de combustível fora dos cilindros do motor. Outra desvantagem é o custo de produção, principalmente da parte quente do turbo. As pás da turbina ficam expostas a temperaturas mais altas e por mais tempo que em um motor turbo convencional, exigindo materiais mais resistentes e mais caros.
Baseando-se no mesmo princípio do Hipercompressor, alguns carros de Rallye utilizam a técnica da pós-injeção. Trata-se da instalação de um bico injetor de combustível nos tubos de escape do motor, a montante do turbo. Esta injeção extra também queima espontaneamente, gerando mais energia na entrada da turbina e o aumento de pressão no compressor, como já explicado. O problema deste sistema é a falta de controle da combustão, que acontece desordenadamente e prejudica as pás do turbo. Com isso, a durabilidade do sistema fica seriamente comprometida, tornando a técnica inadequada para veículos de série.
Outras alternativas de redução do turbo-lag como o “E-Boost”, o “Twincharger”, o Bi-Turbo, o Bi-Turbo de duas fases e o Turbocompressor de geometria variável podem ser votados por vocês para as próximas edições do Post Técnico.
Se já foi o suficiente sobre turbocompressores, outras sugestões de temas são:
- Geometrias de Suspensão
- Esterçamento Traseiro
- Suspensões Ativas e Semi-ativas
- ABS, ESP e Torque-Vectoring
Deixem seus votos e sugestões nos comentários.
-Galileu
cara, primeiramente parabéns pelo seu post
ResponderExcluirjá havia visto sobre esse sistema na Discovery, num documentário sobre tanques de guerra!! Mas foi meio superficial, e agora deu pra ver claramente como funciona! Legal ver como se sacrifica completamente o consumo de combustível em troca de força no motor. Basicamente, queima-se combustivel duplamente pra esse sistema então!
Mas de todo jeito, esse é um sistema bem engenhoso... afinal, a câmara de combustão fica acesa o tempo todo, o que fornece maior pressão pra turbina sempre! Assim elimina-se a inconstância da pressão da turbina. Legal!
Como disse, é parecido com a pós injeção no motor... acho esse uma técnica inteligente até, mesmo sendo meio acoxambrado... é um jeito simples e fácil de se aumentar a pressão no compressor...
Como vc mesmo falou, acredito que os materiais da turbina realmente tem que de altissima durabilidade/resistencia.
Onde encontro um motor desses pra eu "adapitar" no meu corsa?? =)
parabéns, e continue postando! =)
voto em admissão forçada estagiada (acho que foi o que quis dizer com biturbo de duas fases..) e geometrias de suspensão!
abs!
nosso Blog é tão interessante e com tanto conteúdo, que até o Galileu em pessoa vem pra deixar suas considerações científicas aqui!!
ResponderExcluirFala Xina!!!
ResponderExcluirBi-turbo de duas fases é o sistema de sobrealimentação das BMW diesel atuais, com um turbo grande e outro pequeno não sei o nome direito, só traduzi, hehehe... Eu li em algum lugar que eles vao trocar pelo E-Boost na proxima geração...
Ah, esqueci de comentar também:
ResponderExcluirTem muitos motores de injeção direta hoje que usam uma espécie de pós injeção pra esquentar os catalizadores até a temperatura ideal.
da hora o post...nao conhecia isso...mto loko...por isso esses monstros consomem tanto combustível!
ResponderExcluirbelo post! abs
ResponderExcluirMandou bem, Galilas! Ainda lembro da gente discutindo a ignorância disso na aula de KIM na TU. Animal, queria ter um desses pra andar lá em Hollywood, cuspindo fumaça na cara dos ecochatos de Prius! Continue escrevendo, e com o toque de humor do começo!
ResponderExcluirO turbo da BMW que vocês estão falando era chamado de turbo seqüencial, e a Opel tinha nos Diesel dela também. Parece que só existia pra Diesel.